sexta-feira, 9 de julho de 2010

O goleiro Bruno já está condenado - Última Instância

O goleiro Bruno já está condenado

João Ibaixe Jr - 09/07/2010

"Pronto! Mais um caso solucionado pelo melhor setor de investigação criminal do país: a mídia. Claro, com amplo apoio da Polícia Civil e, no caso, de dois Estados da Federação.

O assassinato da jovem Eliza Samudio, que efetivamente tem características de crueldade, provocou a mídia de todo o mundo, em face de envolver uma personalidade futebolística, um ídolo dos torcedores do supostamente (digo isto em virtude do resultado da copa para nós) maior esporte brasileiro, enfim, uma celebridade.

Uma primeira observação tangencial: quem milita na área penal ou acompanha questões criminais sabe que há casos muito mais graves e muito, mas muito, mais cruéis, que são esquecidos por envolverem desconhecidos e permanecem mofando em prateleiras de departamentos burocráticos jurisdicionais. E pior, casos em que as provas já foram produzidas e analisadas e apontam determinantemente para o criminoso e nada com ele acontece. Deste modo, só resta mostrar eficiência em casos de repercussão.

E dá-lhe eficiência: provas técnicas de moderníssima geração, exames em veículos, comparação de exames de sangue e de DNA, aviões e viaturas à disposição para conduzir os envolvidos e os policiais, superando a distância entre duas unidades federativas, cujos agentes dos órgãos de polícia judiciária demonstram-se incansáveis. Uma parafernália gigantesca, praticamente cinematográfica – não se sabe se hollywoodiana ou bollywoodiana, talvez até digna de cinematografia nacional, apesar desta se preocupar mais com a criminalidade relacionada a uma estética da pobreza.

E a presteza dos Delegados? Incomensurável! Disponíveis a todo minuto para dar entrevistas e falar sobre seu trabalho nas investigações e no levantamento de indícios. Eu disse “indícios”? Desculpe-me, leitor, a falha.

O trabalho da polícia judiciária seria tecnicamente o de levantar indícios, ou seja, indicadores que apontassem um possível criminoso, para que este fosse submetido de suspeito à categoria de indiciado, a qual autorizaria legalmente que o indivíduo fosse acusado e processado pela Justiça por ter cometido um crime e, ao final do processo – destaca-se em negrito ao final do processo – fosse considerado culpado e aí, a partir desse momento, sofresse as penas da lei como responsável pelo delito. Só ao final do processo, a Justiça, decretando a condenação, poderia apresentar o indivíduo como culpado.

Porém, como a Justiça funciona mal, como o caso é de repercussão – a ponto de duas polícias de Estados diferentes disputarem a atribuição investigatória – como está envolvida uma celebridade e como o caso tem sim seu aspecto hediondo, o melhor é já apresentar tudo de uma vez agora.

Dane-se o procedimento legal, que é morosidade pura, dane-se a Constituição, que só serve para dar direitos a bandidos e dane-se a Justiça, que somente atrapalha a rapidez da apuração. Enfim, a polícia falou, “tá” falado! E a mídia, afinal, abençoou.

Caso encerrado! Goleiro preso e condenado. Siga-se o próximo."

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